As escolas bilíngues estão cada vez mais
populares em nosso país. Mas quais as principais vantagens e desvantagens que
esse tipo de educação oferece às nossas crianças?
Acreditava-se, entre 1920 e 1960, que a
exposição a duas ou mais línguas, nos primeiros anos de vida, poderia vir a ser
prejudicial ao desenvolvimento de uma criança. Este mito foi derrubado através
de estudos e pesquisas realizados em países como os Estados Unidos, onde filhos
e netos de imigrantes frequentavam escolas onde a língua utilizada era a língua
daquele país (inglês), diferentemente da língua utilizada em casa pelos seus
familiares (espanhol, chinês) e em
países como Canadá, Irlanda e País de
Gales, onde duas línguas são utilizadas pelas escolas e comunidades. Entende-se
portanto, que realmente não há “desvantagens” em ser bilíngue ou ser
alfabetizado em duas línguas simultaneamente. Existem na verdade, inúmeros benefícios,
que permeiam pelo menos duas categorias: benefícios cognitivos (linguístico e
lógico matemático) e de âmbito social e emocional.
O processo da alfabetização pode
parecer simples para nós pais e educadores, mas este não é nada fácil para
nossos filhos e alunos. As crianças
sentem dificuldade em entender como as letras funcionam, suas grafias e sons.
Para as crianças, não existem elementos que relacionem esses símbolos (letras)
de forma lógica com o mundo concreto. Baker (2000) afirma que crianças que são
expostas a duas línguas se deparam com dois ou mais significantes para o mesmo
significado, ou seja, elas aprendem dois “nomes” para um só objeto, animal, cor
etc... Essa exposição que acontece na educação bilíngue liberta a criança das
limitações e amarras linguísticas e proporciona um pensamento menos engessado,
maleável, fazendo com que a criança perceba que objetos pequenos não precisam
necessariamente de nomes pequenos e
objetos grandes de nomes grandes, mas que podem ser representados tanto por
palavras grandes, quanto por palavras pequenas, porque não há uma relação
lógica entre o objeto e a sua representação (ex. Cachorro,dog; árvore ,tree;
formiga, ant). Segundo Lemle (1999), é justamente o entendimento dessa
arbitrariedade simbólica, ou seja, a não- relação entre nomes e objetos, que ajudará nesse processo de alfabetização.
Outro ponto positivo na educação bilíngue é
que as crianças podem desenvolver
habilidades lógico-matemáticas e de resolução de problemas com mais
rapidez. Isso não quer dizer que crianças bilíngues são mais inteligentes, mas
diz respeito à velocidade com que as informações são processadas em seus
cérebros. A psicologia cognitiva afirma que a nossa mente é como um grande
processador de informações. Estas podem ser processadas de duas formas:
automaticamente (quando se “super-aprende” uma tarefa através de repetições,
por exemplo: calçar os sapatos aos 30 anos quando se aprendeu a fazê-lo na
infância) ou de maneira controlada (atividades mais
complexas, como resolver uma equação matemática). Esse processamento controlado
acontece em uma região específica do cérebro, quando se faz necessário planejar
e monitorar a execução de todos os passos até que se chegue ao resultado. Esse
gerenciamento e processamento de funções controladas são as “funções
executivas” . Portanto será mais fácil para o bilíngue aprender e executar
tarefas controladas como: resolver uma equação, entender um problema
matemático, por causa da quantidade de ligações nervosas adquiridas quando se
apreende uma segunda língua nos primeiros anos de vida. É como se o “gerente”
do cérebro bilíngue fosse mais atento, mais eficaz e mais preciso em suas
funções.
Além de fatores cognitivos, benefícios sócio-emocionais
também são observados em pessoas bilíngues. Scott (1973), realizou pesquisas em Montreal, Canadá, com pessoas fluentes em inglês e
francês, e observou uma maior facilidade para reconhecer e adaptar-se às
diferenças, além de maior tendência à integração em equipes, a criatividade,
inovação e reorganização de informações. Quando expostas a outras culturas e
tradições, por conta de uma segunda língua, os indivíduos tornam-se acima de
tudo mais tolerantes, interagindo melhor em suas comunidades, e tornam-se
cidadãos do mundo.
Portanto, a
educação bilíngue vai muito além da ideia do “Status” que parece ter em nosso
país. Recentemente, participando da 41st NABE Conference em Dallas,
nós da Eccoprime, pudemos participar de workshops e palestras, onde a
importância da exposição à segunda língua nos primeiros anos de vida e da
alfabetização simultânea que acontece em ambiente escolar bilíngue foram
ressaltada como fundamentais para a formação de indivíduos completos e
conscientes, que respeitam tanto a sua própria cultura quanto a de outros países
e povos, além de proporcionar aos alunos diversas formas de desenvolvimento
cognitivo.
Para aqueles pais
que desejam investir em uma educação ampla e de qualidade para seus filhos,
fica a dica!
Manuella
Farias, Pedagoga, professora e coordenadora na Eccoprime